“Não há fatos. Pelo menos metade do caso é interpretação.” - Dostoiéviski
Seria preciso aqui retomar uma lição de base? Quem não reconhece a importância, o poder da comunicação no mundo humano? Que a imprensa desde o princípio esteve associada à instituição do poder e seja, ela mesma, o maior veículo contemporâneo do poder, isto também todos parecem reconhecer.
Existe, pois, todos reconhecem, uma política da imprensa, bem como uma imprensa política, já que a comunicação é o ato primeiro da sociabilidade humano civilizado. Mas existe também, o que muitos nem sempre conseguem reconhecer, uma ética da imprensa, bem como uma imprensa ética.
Este talvez seja o problema da diplomação do trabalho jornalístico. Na carência de uma formação de nível superior, muitas questões conceituais da maior importância no trabalho jornalístico fica à mercê de um empirismo, de um intuicionismo nem sempre desejável nem tampouco cientificamente confiável.
Não à toa que grande expressões da mundo da cultura, tais como Nietzsche, Wilde e Balzac, tinham grande críticas ao trabalho da imprensa. Balzac mesmo no prefácio de seu romance Ilusões Perdidas, pede uma intervenção governamental na imprensa de sua época, tal era a manipulação a que os artistas de então eram vítimas.
A comunicação é o espaço público da inteligência coletiva, é o lugar primeiro da “noosfera” humana, é a “trofolaxe humana”. Ela é, portanto, imediatamente política. Toda imprensa é, enfim, política. Isto é uma velha coisa “humana, demasiadamente humana”, nada há de espantoso. Mas que uma certa imprensa queira ser ética, que se pense em uma ética da imprensa, isto espanta por si mesmo. Como pode uma forma de comunicação eminentemente política querer constituir uma ética de si, uma prática de si ética. Impõem-se aqui uma dobra de si, uma nova subjetividade, auto-instituída, um devir sujeito imprevisível...
A ética é domínio de si, autodomínio de si diante das poderosas forças dos instintos, de um lado, e da moral, dos costumes, da sociedade de outro. Em termos psicanalíticos, a Ética é o lugar do Ego na estrutura psíquica humana, mediador heróico das lutas entre os impulsos delirantes do Id e as repressões do Superego. Em termos kantianos, é domínio supra-sensível da liberdade da razão sobre as necessidades materiais de um lado e do constrangimento exterior de outro. É, rigorosamente, a autonomia individual.
A Ética envolve então uma discussão filosófica dos valores, da escolha, da auto-deliberação.
Um dia, espera-se, existirá uma imprensa ecosófica.